Diretora Adjunta do Laboratório de Anatomia Patológica e Responsável pela Área de Citopatologia
Manager da Patologia Molecular
HPA Magazine 23 // 2025
Em novembro de 2020 a OMS lançou um repto mundial para acelerar a eliminação do CCU assente em três estratégias primordiais: vacinação, rastreio e tratamento. A implementação bem-sucedida destes três pontos e o cumprimento destas metas, poderão reduzir o surgimento de novos casos em mais de 40% e evitar 5 milhões de mortes até 2050.
O rastreio do CCU, utilizando como método de deteção a citologia, contribuiu para um declínio da incidência e mortalidade por CCU nos últimos 60 anos. No entanto, foi o aparecimento das técnicas de Biologia Molecular que revolucionou o estudo do CCU, confirmando que a infeção por HPV é a principal responsável pelo desenvolvimento da carcinogénese do colo uterino, que se inicia por uma infeção aguda por um ou mais subtipos víricos carcinogénicos de HPV. A vacinação foi decisiva no decréscimo da incidência de cancro, mas tem trazido também novos desafios devido à substituição dos subtipos víricos mais frequentes, e levando à necessidade de utilização de novos testes de genotipagem de hr-HPV (alto risco).
A evidência científica revelou, nos últimos anos, que o rastreio com teste de HPV superou a citologia em sensibilidade, contribuindo para uma melhor prevenção do CCU. Os resultados dos testes de rastreio como citologia e hr-HPV detetam situações de infeção cujo risco de progressão de doença é mínimo. Como consequência, após o rastreio são necessários exames adicionais de triagem para um esclarecimento fiável, como genotipagem alargada de hr-HPV, CINtec® PLUS ou hipermetilação (epigenética). A colposcopia, com biópsia se necessária, é um procedimento obrigatório para avaliar pacientes com colo do útero clinicamente suspeito.
Deste modo, o desafio primordial do rastreio do CCU é a identificação de lesões com potencial evolutivo. De forma a evitar desconforto e ansiedade (tanto da paciente como do clínico), e tendo em conta uma abordagem cada vez mais conservadora, considerando potenciais interferências no futuro obstétrico da paciente, é necessário providenciar um teste fidedigno que permita uma recomendação mais clara e objetiva, assegurando a ausência de doença significativa e/ou retardando a necessidade de exames de seguimento.
Uma infeção provocada por HPV pré-existente pode levar à instabilidade genética das células infetadas e consequentemente ao desenvolvimento de cancro do colo do útero. No decurso da carcinogénese ocorrem alterações, designadamente dos padrões de metilação do DNA, que têm demonstrado o seu potencial clínico como biomarcadores preditivos da evolução da doença. O GynTect® é um teste rápido e não invasivo para o esclarecimento de anomalias no rastreio do cancro do colo do útero, facilitando decisões clínicas de follow-up e avaliação da necessidade de colposcopia. Para este teste é utilizada uma citologia cérvico-vaginal ou citologia da cúpula vaginal colhida em ThinPrep®. O ensaio GynTect® reconhece seis áreas do genoma humano que só se encontram metiladas na oncogénese. Um resultado negativo de GynTect® exclui um diagnóstico de cancro no momento do teste, e se existir displasia é altamente improvável a sua progressão. Um resultado de GynTect® positivo é preditivo de lesão precursora maligna ou cancro, sendo recomendado aconselhamento clínico imediato.
O teste GynTect® revela uma elevada sensibilidade e especificidade na deteção de lesões CIN3+. O GynTect® é menos sensível à deteção de lesões CIN1 e CIN2, pelo que estes resultados devem ser avaliados considerando que muitas destas lesões regridem espontaneamente, especialmente em mulheres mais jovens.
Os estudos indicam que o GynTect® detetou com fiabilidade todos os cancros do colo do útero e que as lesões com um resultado negativo de GynTect® não progridem para carcinomas. Esta abordagem não só reduz custos como também tem a capacidade de mitigar a ansiedade, o sobre diagnóstico e o sobre tratamento. No Eurogin 2024 foi também apresentado pelo departamento de Biologia Molecular do Laboratório de Anatomia Patológica (LAP) da Unilabs um estudo, cujas conclusões sublinham o potencial do teste de metilação: melhorar a eficiência e acuidade dos testes de rastreio de cancro do colo do útero.
De todas as estratégias de triagem mencionadas, a metilação é aquela que melhor correlação apresenta com o processo de oncogénese potenciando um maior valor prognóstico.
O LAP tem uma vasta equipa de patologistas diferenciados e dedicados às diferentes áreas da especialidade. O serviço de patologia ginecológica oferece citologia e histopatologia diagnóstica de alta qualidade em citologias, biópsias e ressecções do trato urogenital. A Unilabs possui ainda uma equipa multidisciplinar altamente especializada na condução de estudos de Biologia Molecular composta por médicos, biólogos e técnicos qualificados, sendo possível com este apoio, oferecer orientação mais precisa no seguimento das pacientes.
Referências Bibliográficas // References
Consensus Guidelines for the Management of Abnormal Cervical Cancer Screening Tests by the SPCPTGI. Pedro A, Pacheco A, et al. Acta Med Port [Internet]. 2023 Jan. 23 [cited 2024 Dec. 12]; 36(4):285-9.
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