Estudante do Curso
de Mestrado em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica Unidade de
Cuidados Intensivos Neonatais
HPA Magazine 23 // 2025
A parentalidade na prematuridade, ou seja, um bebé que nasce antes das 37 semanas de gestação, difere significativamente da parentalidade no nascimento de um bebé de termo, devido às condições únicas e desafiadoras que envolvem a prematuridade.
Esse momento é repleto de desafios emocionais, psicológicos e físicos uma vez que, para além das preocupações com o estado de saúde do bebé, os pais enfrentam a dificuldade de estabelecer um vínculo imediato, devido à separação imposta pela necessidade de internamento do recém-nascido (RN) numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN).
O processo de vinculação entre pais/RN inicia-se ainda no período pré-natal, quando a gravidez é planeada e desejada, com a idealização do bebé imaginário, tornando-se ainda maior após o nascimento, principalmente entre mãe/RN, uma vez que os primeiros contactos entre ambos, promovem alterações hormonais e fisiológicas na mãe, alterações estas que são despoletadas pela presença do bebé.
A prematuridade causa assim uma disrupção no processo de vinculação entre pais/bebé prematuro, uma vez que o bebé apresenta características físicas diferentes das que foram idealizadas (discrepância entre bebé real e o imaginário), ou seja, apresenta uma aparência frágil, uma interação diferente de um bebé de termo e com necessidade de cuidados mais complexos. No entanto, o fator com maior influência no processo de vinculação é, essencialmente, a separação física vivenciada, que está subjacente ao internamento destes bebés numa UCIN. Também o ambiente tecnológico, hostil e intimidante que caracteriza as UCINs representa um desafio adicional para os pais exercerem o seu papel parental e consequentemente a transição para a parentalidade. Através da evidência existente na literatura, as barreiras à vinculação estão relacionadas com: a tecnologia presente na UCIN, o afastamento físico, a instabilidade fisiológica do bebé, o medo do apego e da posterior separação por morte do mesmo, e por vezes, alguma falta de informação, por parte dos profissionais de saúde, no que concerne ao estado clínico e prognóstico do bebé.
A parentalidade na prematuridade é descrita como uma experiência emocionalmente desgastante para os pais. Os pais de bebés prematuros expressam sentimentos de angústia, tristeza, insegurança, culpabilização, impotência, fracasso, medo e incerteza relativamente ao futuro.
Torna-se assim fundamental, implementar estratégias facilitadoras do desenvolvimento das capacidades parentais, que envolvam a aquisição de competências emocionais, práticas e cognitivas, para que os pais se sintam mais confiantes no novo papel que assumem, promovendo uma transição para a parentalidade de forma mais tranquila.
Deste modo, existem estratégias documentadas que podem e devem ser implementadas e que são promotoras de vinculação, encontrando-se alicerçadas em dois grandes grupos: promoção da interação entre pais/RN prematuro e, promoção da interação entre os pais e os profissionais de saúde, mais concretamente a equipa de enfermagem.
Compete ao Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil e Pediatria não só a promoção da vinculação, mas também a implementação e gestão, em parceria com os pais, de um plano de saúde que seja promotor da parentalidade.
Neste sentido, são eles os principais responsáveis pela implementação destas estratégias sendo que, para promover a interação entre pais/RN prematuro deve ser incentivado, por estes profissionais, a participação e envolvimento dos pais nos cuidados que são prestados ao bebé. Ou seja, os cuidados devem ser planeados e realizados em parceria de forma a sentirem-se incluídos, úteis e com sentimento de que são eles efetivamente os principais cuidadores.
Para além disso, é crucial incentivar à proximidade física, nomeadamente, incentivar os pais a estarem presentes, a acariciar o bebé através do toque, do pousar das mãos, da massagem e do colo, sendo estes pequenos gestos essenciais para a estabilidade hemodinâmica do RN, para o controlo da dor em procedimentos invasivos, para a capacitação parental, entre outros.
No entanto, a estratégia com maior impacto na promoção da vinculação é, indiscutivelmente, o contacto pele com pele ou método canguru. Este método permite aos pais maior conexão com o seu filho, ao mesmo tempo que reduz a ansiedade e fortalece sua autoestima enquanto pais, sentindo-se mais capacitados para cuidar do seu bebé, gerando um efeito positivo tanto na sua saúde mental como no processo de adaptação à parentalidade. Além do mencionado, o método canguru e a extração de leite junto do bebé potencia o sucesso na amamentação, numa fase posterior, e aumenta a quantidade de leite extraído. Apesar da maioria destes bebés, devido à sua imaturidade, não poderem ser amamentados é fundamental informar as mães sobre os benefícios do leite materno para a saúde do bebé prematuro.
Por último, a promoção da interação entre os pais e os profissionais de saúde, assenta na comunicação e no apoio emocional. A comunicação deve ser clara, concreta e empática, recorrendo a uma linguagem livre de termos técnicos e científicos que dificultem a compressão, de forma a respeitar as capacidades dos pais, a valorizar o seu papel e a reduzir a sua ansiedade.
Os enfermeiros desempenham um papel crucial oferecendo suporte emocional contínuo aos pais durante todo o processo de hospitalização, proporcionando momentos de escuta ativa, de partilha de sentimentos e emoções.
Em suma, pode dizer-se que a parentalidade na prematuridade pode ser repleta de desafios e dúvidas, no entanto, com a implementação das estratégias supracitadas é possível promover a vinculação e autoconfiança, relembrando aos pais que eles serão sempre os melhores cuidadores dos seus filhos.