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HPA Magazine 23 // 2025
PHDA no adulto: uma realidade pouco falada
Quando se pensa em PHDA, é comum associá-la à infância, normalmente a crianças com dificuldades de atenção e/ou de comportamento. No entanto, a PHDA também persiste na idade adulta e pode ter um impacto significativo na vida profissional, académica e pessoal.
Em Portugal, estima-se que a prevalência da PHDA no adulto ronde os 2,5% a 5%, mas muitos casos continuam por diagnosticar.
A falta de conhecimento sobre a PHDA em adultos resulta frequentemente em diagnósticos tardios ou inexistentes. Muitos indivíduos passam anos com a sensação de serem "diferentes" dos seus pares, pares estes que se mostram incapazes de compreender a dificuldade acrescida em tarefas quotidianas que lhes parecem simples. Adultos com PHDA enfrentam, por vezes, críticas, tanto no trabalho quanto nas relações pessoais, sendo rotulados como "preguiçosos", "desorganizados" ou "irresponsáveis". Na realidade, estas dificuldades resultam de uma perturbação do neuro desenvolvimento que afeta a capacidade de regular a atenção, a impulsividade e a organização.
Além disso, a transição da infância/adolescência para a idade adulta traz desafios adicionais que poderão sobrecarregar o adulto. Sem um suporte adequado, os sintomas da PHDA tornam-se mais evidentes à medida que as exigências da vida adulta aumentam: estudos, carreiras exigentes, compromissos financeiros e familiares. A dificuldade em conciliar, equilibrar e lidar com todas estas exigências leva a um ciclo de frustração e sentimento de fracasso que, frequentemente, é mal interpretado.
Enquanto nas crianças os sintomas como a hiperatividade ou até o défice de atenção/concentração são mais evidentes, nos adultos a PHDA pode manifestar-se de formas mais subtis, como por exemplo:
• Dificuldades na capacidade de concentração por longos períodos de tempo;
• Esquecimentos frequentes e desorganização;
• Adiamento constante de tarefas importantes (procrastinação);
• Sensibilidade aumentada ao stress e dificuldades na gestão do tempo;
• Dificuldade em manter relações interpessoais estáveis;
• Baixa produtividade no contexto laboral;
• Abuso e/ou dependência de substâncias (tabaco, álcool, drogas) ou atividades (videojogos, jogos de azar);
• Tendência a mudar frequentemente de emprego ou projeto.
Estes sintomas não impactam apenas a autoestima, mas também podem levar ao desenvolvimento de outras condições, como ansiedade e depressão. Muitos adultos com PHDA relatam sensações constantes de "estar atrasado" ou "estar sempre aquém do esperado". Esta pressão autoinfligida, somada à falta de compreensão externa, torna a vida de um adulto com PHDA particularmente desafiadora.
Outro obstáculo significativo é a ausência de informação e formação dos profissionais de saúde. Muitos adultos relatam ter procurado ajuda profissional, apenas para receber diagnósticos errados ou serem aconselhados a "melhorar a disciplina". É essencial promover um maior conhecimento sobre a PHDA no adulto, possibilitando diagnósticos precoces e intervenções eficazes que transformem a vida destes indivíduos.
PHDA, ansiedade e depressão: Uma relação complexa
Existe uma ligação clara entre a PHDA e condições como a ansiedade e a depressão. Em adultos, a dificuldade em corresponder às exigências diárias e a constante sensação de fracasso podem contribuir para o desenvolvimento destes quadros.
PHDA e Ansiedade:
• Preocupação Excessiva: A desatenção e a impulsividade associadas à PHDA podem criar um ciclo de preocupações excessivas, especialmente em ambientes sociais e profissionais.
• Dificuldades em Gerir Tarefas: A falta de organização pode gerar uma sensação constante de estar sobrecarregado, o que pode levar a sintomas de ansiedade.
PHDA e Depressão:
• Baixa Autoestima: O fracasso repetido em cumprir prazos, alcançar metas ou manter relações pode resultar em uma autoimagem negativa e depressão.
• Isolamento Social: A dificuldade em interagir socialmente e o sentimento de "ser diferente" também pode contribuir para o isolamento, fator de risco para a depressão.
Estudos indicam que mais de 50% dos adultos com PHDA apresentam algum tipo de perturbação de humor associado, como ansiedade generalizada ou depressão major. Esta comorbidade não é mera coincidência, mas sim o resultado de um ciclo de dificuldades emocionais e funcionais que se reforçam mutuamente.
Estratégias Práticas para Lidar com a PHDA
Da Avaliação à Intervenção
Para os adultos com PHDA, pequenas alterações no quotidiano podem fazer toda a diferença. Abaixo, apresentamos algumas estratégias simples e eficazes que poderão ser aplicadas tendo em conta o desafio:
A sinergia entre psicólogos, psiquiatras e/ou neurologistas é fundamental para uma abordagem integrada e eficaz no tratamento da PHDA em adultos. Enquanto os psicólogos oferecem suporte na avaliação especializada e desenvolvimento de estratégias comportamentais e cognitivas, os psiquiatras e/ou neurologistas podem proporcionar o acompanhamento médico adequado, com a prescrição de medicamentos, quando necessário. Essa colaboração interdisciplinar não só garante uma avaliação precisa, mas também maximiza o impacto positivo do tratamento, promovendo melhorias duradouras na qualidade de vida dos indivíduos.
PHDA no Feminino: Invisibilidade e Desafios
A PHDA no feminino é uma área que apenas recentemente tem recebido mais atenção. Estudos mostram que as mulheres têm tendência a apresentar um padrão diferenciado de sintomas, com menor incidência na hiperatividade e mais sinais de desatenção. Isso contribui para o subdiagnóstico, já que os comportamentos são frequentemente atribuídos a outras causas, como stress, ansiedade ou personalidade, perpetuando a invisibilidade da PHDA no feminino.
O impacto da PHDA nas mulheres adultas manifesta-se de forma complexa, afetando múltiplas esferas da vida. A pressão social para equilibrar responsabilidades profissionais, familiares e pessoais intensifica o sentimento de sobrecarga. As mulheres com PHDA relatam frequentemente dificuldades em manter uma rotina organizada, o que leva a um ciclo constante de frustração e culpa. Esta experiência contribui para níveis elevados de ansiedade e aumenta o risco de burnout.
Em termos de prevalência, estima-se que cerca de 3% das mulheres adultas apresentem PHDA, mas os números poderão ser superiores devido à complexidade do quadro e dificuldade em realizar o diagnóstico. Características comuns incluem:
• Esquecimento e desorganização crónica;
• Sentimento constante de sobrecarga;
• Ansiedade relacionada com a produtividade e desempenho;
• Maior incidência de burnout profissional;
• Dificuldades em gerir prazos e compromissos;
• Problemas relacionais devido à impulsividade ou à distração.
A ausência de tratamento adequado pode resultar em complicações a longo prazo, como exaustão emocional e maior vulnerabilidade a perturbações do humor. É fundamental aumentar a sensibilização para a PHDA no feminino, promovendo diagnósticos mais precisos e intervenções personalizadas que considerem as especificidades das mulheres adultas com esta perturbação.
Conclusão
A PHDA no adulto, especialmente nas mulheres, é uma condição muitas vezes negligenciada, mas que apresenta desafios significativos para quem a enfrenta. O diagnóstico precoce e a implementação de estratégias adequadas podem proporcionar melhorias substanciais na qualidade de vida dos indivíduos afetados. Além disso, a compreensão das comorbidades associadas, como a ansiedade e a depressão, é essencial para oferecer um tratamento mais eficaz e abrangente, promovendo equilíbrio psicológico e emocional.