Enfermeiro Especialista
em Saúde Materna
e Obstetrícia
HPA Magazine 21 // 2024
As preocupações e pensamentos mais comuns que levam a stress e ansiedade podem ser:
> Sintomas e desconfortos que põem em risco o
bem-estar (hiperémese, dores nas costas, edemas)
> Auto-imagem alterada (dimorfismo físico)
> Medo que haja algum problema com o feto
> Mudança de papéis, passar a ser mãe, deixar de trabalhar
> Temos estabilidade económica suficiente?
> Sentimento de culpa
> Terei ajuda do companheiro ou serei sobrecarregada?
> Tenho suporte familiar próximo, ou esse suporte
se existir pode ser fonte de stress e de conflito no
casal? (relações conflituosas na família)
> O que poderá mudar na relação?
> Serei uma boa mãe?
> Complicações na gravidez
> Medo do próprio parto
Estes fatores isolados ou em associação podem levar a um acumular de stress e ansiedade.
Estas situações devem ser desmistificadas e debatidas, pois podem acontecer com qualquer mulher mesmo sem antecedentes, sendo que o distúrbio mais frequente é a ansiedade e a depressão, chegando a afectar 10 a 15 em cada 100 mulheres.
Existem fatores de risco que devem ser acompanhados cuidadosamente durante a fase gravítica e principalmente no pós-parto:
> Se tem antecedentes de doença mental
> Se realizou suspensão de medicação na gravidez
> Eventos traumáticos recentes como a morte de
familiares ou o fim de uma relação
> Sentimentos acerca do que pensa sobre estar grávida
> Memórias traumáticas em criança
> Passado de desordem alimentar (nomeadamente
anorexia ou bulimia) podem piorar a aceitação do
aumento de peso ou autoimagem
> Alguns sintomas de gravidez como sono irregular
ou falta de energia, podem ser confundidos
com depressão.
Quais são os sintomas que podem indicar que existe uma saúde mental frágil?
> Tristeza, choro fácil ou mais frequente
> Ausência de satisfação em atividades anteriormente
satisfatórias
> Falta de energia ou motivação
> Preocupações excessivas
> Dormir tempo demais ou insónias
> Comer demais ou comer pouco
> Dificuldade na concentração
> Dificuldade na tomada de decisão
> Sentimentos de culpa ou sem esperança
> Sentir que vai acontecer alguma coisa má
> Queixas físicas ou dores não específicas
> Sentir-se sem valor
> Preocupação excessiva com o bebé
> Sentir-se incapaz ou sem vontade de tratar do bebé
> Pensamentos negativos sobre o bebé
Segundo a OMS uma saúde mental frágil no período perinatal pode estar associada a um maior risco de complicações obstétricas, como pré-eclampsia, hemorragia, parto prematuro ou maior risco de suicídio.
Este aumento de risco pode ser explicado por estas grávidas faltarem mais a consultas de vigilância de obstetrícia, podendo o seguimento da sua gravidez ser mais errático.
Segundo a OMS uma mulher com uma saúde mental mais deteriorada e sem acompanhamento, tem maior risco de poder levar a outcomes fetais menos desejados.
Existe também maior risco de baixo peso dos recém-nascidos, podendo estes serem mais sensíveis a doenças físicas e, o seu desenvolvimento comportamental e emocional na infância poder ser também afetado. Estas crianças podem também ter dificuldades na alimentação e na sua vinculação com os seus pais.
Alguns exemplos de fatores de risco que podem levar a situações de fragilidade mental são:
> Gravidez na adolescência
> Experiência de parto anterior traumático
> Pobreza
> Discriminação de género
> Nutrição desadequada
> Baixas oportunidades educacionais
> Condições físicas debilitadas
> Baixo suporte social
> Gravidez durante existência de desastres naturais
> Violência doméstica ou outros conflitos
> Gravidez indesejada
> Dificuldades de fertilidade
> Utilização de substâncias aditivas
A chave para cuidar estas situações é identificar as grávidas e puérperas em risco e prevenir com a ajuda apropriada e atempada. Distinguir entre as preocupações do dia-a-dia, de sintomas clínicos significativos, pode ser muito difícil, devendo a mulher ser questionada sobre o que sente sobre os seus sintomas, se acha que são severos, há quanto tempo se sente assim e se afetam a sua capacidade funcional e de lidar com os problemas. A OMS considera que o suporte mental deve ser fornecido durante as consultas de rotina, podendo ser facultadas estratégias de controlo e gestão de stress, utilizando o suporte de amigos e família. Na nossa consulta temos um instrumento que faz parte do processo da grávida, que é uma folha de informação e um questionário de autoavaliação, que em caso da mesma ter respondido positivamente a qualquer das questões, é convidada a marcar uma consulta/teleconsulta com o Psicólogo Clínico da Maternidade, o Dr. André Galvão de Castro.
No internamento da maternidade utiliza-se também um questionário aplicado pela equipa de enfermagem. Este inquérito realiza uma nova triagem sobre a saúde mental da grávida na admissão, complementando com a colheita de dados que avaliam as outras componentes de bem-estar físico e emocional. Caso existam sinais de alarme, o Obstetra referencia imediatamente para o Psicólogo do departamento, para uma avaliação especializada e de acompanhamento continuado. A toda a grávida com sinais de risco é oferecida ajuda, devendo a mesma sentir-se confortável para a aceitar e sendo incentivada a pedir ajuda. Assim sendo, a equipa multidisciplinar deve procurar identificar estes fatores de risco, oferecendo sempre ajuda e disponibilidade para ouvir a pessoa.