tempos médios de espera

Hospital Particular Alvor

00h24m

Atendimento Permanente

Hospital Particular Gambelas

00h42m

Atendimento Permanente

00h00m

Pediatria

Hospital Particular da Madeira

01h02m

Atendimento Permanente

00h00m

Pediatria

Madeira Medical Center

Atendimento Médico
não programado

Enfº. Alain Pires Delgado

Enfermeiro Especialista 
em Saúde Materna 
e Obstetrícia

 

Enfº. Alain Pires Delgado

Perceção da enfermagem nos fatores desencadeantes de alterações de saúde mental na grávida

HPA Magazine 21 // 2024

A gravidez do casal, está normalmente associada a um acontecimento considerado feliz, excitante e desejado.
Este costuma ser o sentimento geral passado na sociedade, mas a nível individual e íntimo a questão é muito mais profunda e merece ser analisada.
As várias mudanças que são causadas pela maternidade a vários níveis, podem ser difíceis de lidar e aceitar. 
Toda a grávida vivencia a gravidez de uma forma pessoal, e muitas lidam na gravidez com factores que podem causar uma pressão extrema, podendo chegar a colocar em causa o seu equilíbrio mental e emocional.
Estatisticamente 1 em cada 5 mulheres experienciam problemas de saúde mental na gravidez ou durante um período que pode ir até um ano no pós-parto.

 



 

As preocupações e pensamentos mais comuns que levam a stress e ansiedade podem ser:
> Sintomas e desconfortos que põem em risco o 
   bem-estar (hiperémese, dores nas costas, edemas)
> Auto-imagem alterada (dimorfismo físico)
> Medo que haja algum problema com o feto
> Mudança de papéis, passar a ser mãe, deixar de trabalhar
> Temos estabilidade económica suficiente?
> Sentimento de culpa
> Terei ajuda do companheiro ou serei sobrecarregada?
> Tenho suporte familiar próximo, ou esse suporte 
   se existir pode ser fonte de stress e de conflito no 
   casal? (relações conflituosas na família)
> O que poderá mudar na relação? 
> Serei uma boa mãe?
> Complicações na gravidez
> Medo do próprio parto 

Estes fatores isolados ou em associação podem levar a um acumular de stress e ansiedade.
Estas situações devem ser desmistificadas e debatidas, pois podem acontecer com qualquer mulher mesmo sem antecedentes, sendo que o distúrbio mais frequente é a ansiedade e a depressão, chegando a afectar 10 a 15 em cada 100 mulheres.

Existem fatores de risco que devem ser acompanhados cuidadosamente durante a fase gravítica e principalmente no pós-parto:
> Se tem antecedentes de doença mental
> Se realizou suspensão de medicação na gravidez
> Eventos traumáticos recentes como a morte de 
   familiares ou o fim de uma relação
> Sentimentos acerca do que pensa sobre estar grávida
> Memórias traumáticas em criança
> Passado de desordem alimentar (nomeadamente 
  anorexia ou bulimia) podem piorar a aceitação do 
  aumento de peso ou autoimagem
> Alguns sintomas de gravidez como sono irregular 
  ou falta de energia, podem ser confundidos 
  com depressão.

Quais são os sintomas que podem indicar que existe uma saúde mental frágil?
> Tristeza, choro fácil ou mais frequente
> Ausência de satisfação em atividades anteriormente 
   satisfatórias
> Falta de energia ou motivação
> Preocupações excessivas
> Dormir tempo demais ou insónias
> Comer demais ou comer pouco
> Dificuldade na concentração
> Dificuldade na tomada de decisão
> Sentimentos de culpa ou sem esperança
> Sentir que vai acontecer alguma coisa má
> Queixas físicas ou dores não específicas
> Sentir-se sem valor
> Preocupação excessiva com o bebé
> Sentir-se incapaz ou sem vontade de tratar do bebé
> Pensamentos negativos sobre o bebé

Segundo a OMS uma saúde mental frágil no período perinatal pode estar associada a um maior risco de complicações obstétricas, como pré-eclampsia, hemorragia, parto prematuro ou maior risco de suicídio.
Este aumento de risco pode ser explicado por estas grávidas faltarem mais a consultas de vigilância de obstetrícia, podendo o seguimento da sua gravidez ser mais errático.
Segundo a OMS uma mulher com uma saúde mental mais deteriorada e sem acompanhamento, tem maior risco de poder levar a outcomes fetais menos desejados. 
Existe também maior risco de baixo peso dos recém-nascidos, podendo estes serem mais sensíveis a doenças físicas e, o seu desenvolvimento comportamental e emocional na infância poder ser também afetado. Estas crianças podem também ter dificuldades na alimentação e na sua vinculação com os seus pais.

 

Alguns exemplos de fatores de risco que podem levar a situações de fragilidade mental são:
> Gravidez na adolescência
> Experiência de parto anterior traumático
> Pobreza
> Discriminação de género
> Nutrição desadequada
> Baixas oportunidades educacionais
> Condições físicas debilitadas
> Baixo suporte social
> Gravidez durante existência de desastres naturais
> Violência doméstica ou outros conflitos
> Gravidez indesejada
> Dificuldades de fertilidade
> Utilização de substâncias aditivas

A chave para cuidar estas situações é identificar as grávidas e puérperas em risco e prevenir com a ajuda apropriada e atempada. Distinguir entre as preocupações do dia-a-dia, de sintomas clínicos significativos, pode ser muito difícil, devendo a mulher ser questionada sobre o que sente sobre os seus sintomas, se acha que são severos, há quanto tempo se sente assim e se afetam a sua capacidade funcional e de lidar com os problemas. A OMS considera que o suporte mental deve ser fornecido durante as consultas de rotina, podendo ser facultadas estratégias de controlo e gestão de stress, utilizando o suporte de amigos e família. Na nossa consulta temos um instrumento que faz parte do processo da grávida, que é uma folha de informação e um questionário de autoavaliação, que em caso da mesma ter respondido positivamente a qualquer das questões, é convidada a marcar uma consulta/teleconsulta com o Psicólogo Clínico da Maternidade, o Dr. André Galvão de Castro.
No internamento da maternidade utiliza-se também um questionário aplicado pela equipa de enfermagem. Este inquérito realiza uma nova triagem sobre a saúde mental da grávida na admissão, complementando com a colheita de dados que avaliam as outras componentes de bem-estar físico e emocional. Caso existam sinais de alarme, o Obstetra referencia imediatamente para o Psicólogo do departamento, para uma avaliação especializada e de acompanhamento continuado. A toda a grávida com sinais de risco é oferecida ajuda, devendo a mesma sentir-se confortável para a aceitar e sendo incentivada a pedir ajuda. Assim sendo, a equipa multidisciplinar deve procurar identificar estes fatores de risco, oferecendo sempre ajuda e disponibilidade para ouvir a pessoa.