Farmacêutica
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Farmacêuticos
HPA Magazine 20
Em 1928, Alexander Fleming descobriu a penicilina ao desenvolver pesquisas sobre estafilococos. Desde então, foram desenvolvidos vários agentes antimicrobianos com diferentes mecanismos de ação, espectros e vias de administração. Os avanços científicos nesta área têm permitido uma otimização a nível de prevenção, diagnóstico e tratamento de diversas patologias de origem infeciosa.
No entanto, o uso indiscriminado de antimicrobianos na saúde e na produção pecuária em larga escala tem favorecido a seleção de microrganismos resistentes, resultando na diminuição ou perda de eficácia dos antibióticos.
A resistência microbiana é o fenómeno no qual as bactérias, fungos, vírus ou parasitas se tornam resistentes à atividade de agentes antimicrobianos através de diversos mecanismos de resistência. O aumento das resistências está associado a mais internamentos hospitalares, ao aumento da taxa de mortalidade e a elevados custos em saúde. Desta forma, algumas doenças cada vez mais comuns, incluindo infeções do trato respiratório, infeções sexualmente transmissíveis ou do aparelho urinário, tornam-se incuráveis.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as infeções causadas por microrganismos que não respondem aos tratamentos antimicrobianos já resultam em quase 5 milhões de mortes por ano. Um número que tende a aumentar e que os estudos indicam que poderá chegar a cerca de 10 milhões em 2050, caso não sejam adotadas medidas eficazes para reduzir o risco da sua ocorrência.
Para combater estas resistências urge investigar e desenvolver novas moléculas, contudo este processo é cada vez mais complexo e dispendioso. Segundo o último relatório anual da OMS, apenas 12 novos antibióticos foram aprovados desde 2017. Desses, 10 pertencem a classes já existentes no mercado. As resistências antimicrobianas são consideradas como uma das mais graves ameaças à saúde pública mundial e ao futuro da humanidade, a par das alterações climáticas e do risco de conflito nuclear.
Embora o uso de antibióticos possa naturalmente levar ao desenvolvimento de resistência microbiana, o uso inadequado destes medicamentos é um dos principais fatores que aceleram e agravam a ocorrência dessas resistências.
Assim, devem ser observados alguns princípios gerais no uso de antibióticos por parte da população:
> Os antibióticos não servem para tratar todas as infeções e não devem ser usados em excesso (os antibióticos só atuam contra bactérias sensíveis para determinado antibiótico).
> Os antibióticos não são eficazes contra vírus, parasitas ou fungos. Como tal, não devem ser utilizados para combater todo o tipo de infeções, como gripes e constipações que são geralmente causadas por vírus.
> A toma dos antibióticos deve ser feita de forma responsável e apenas quando prescritos pelo Médico.
> Devem ser seguidas todas as instruções do Médico e do Farmacêutico, tal como tomar a dose correta, respeitar os intervalos entre administrações e tomar o antibiótico até ao final do tratamento.
> Não devem ser utilizadas sobras de antibióticos. Estas devem ser devolvidas na Farmácia, para que possam ser eliminadas de forma correta.
Os profissionais de saúde têm um papel de extrema importância ao promoverem o uso racional de antimicrobianos junto da população, ao seguirem práticas de prescrição, dispensa e administração baseadas em evidência científica e, por fim, ao cumprirem com as normas sobre o uso de antibióticos emanadas pelas autoridades competentes.
Assegurar a eficácia dos antimicrobianos é uma responsabilidade de todos!
NA PRODUÇÃO ANIMAL
Os animais podem ser tratados com antibióticos e, como tal, podem ser portadores de bactérias resistentes a antibióticos. Os vegetais podem ser contaminados com bactérias resistentes a antibióticos através de estrume animal utilizado como fertilizante. As bactérias resistentes a antibióticos podem passar para os seres humanos a partir dos alimentos e do contacto direto com animais.
NA COMUNIDADE
Por vezes, os seres humanos recebem antibióticos receitados para tratar infeções. Porém, as bactérias desenvolvem resistência aos antibióticos como uma reação adaptativa natural. As bactérias resistentes a antibióticos podem então ser transmitidas dos doentes tratados para outras pessoas.
NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
Os seres humanos podem receber antibióticos em hospitais e em seguida, serem portadores de bactérias resistentes a antibióticos. Estas podem ser transmitidas para outros doentes a partir de mãos sujas ou objetos contaminados. Os doentes que podem ser portadores de bactérias resistentes a antibióticos acabam por ser enviados para casa, e podem transmitir estas bactérias resistentes a antibióticos a outras pessoas.
REGRESSO DE VIAGENS
Os viajantes que necessitam de cuidados hospitalares durante a visita a um país com prevalência elevada de resistência aos antibióticos podem regressar com bactérias resistentes a antibióticos. Mesmo que não necessitem de cuidados de saúde, os viajantes podem ser portadores e importar bactérias resistentes adquiridas a partir de alimentos ou do meio ambiente durante a viagem.