Enfermeira de Saúde Materna e Obstetrícia
HPA Magazine 16
Ter consciência de um possível plano B, nomeadamente, a necessidade de um parto por cesariana, permitirá amenizar e até prevenir o choque entre o parto idealizado e o parto realizado. Esta consciência promove uma maior aceitação da experiência do parto, protegendo o equilíbrio emocional da mulher, diminuindo assim o possível desenvolvimento de perturbações, como a depressão pós-parto.
Na tentativa constante de proporcionar uma experiência o mais positiva e plena possível, muitos têm sido os esforços das equipas multidisciplinares e instituições hospitalares, para o desenvolvimento e promoção de medidas mais humanizadas, que respondam aos ideais e expectativas da mulher e do casal e que permitam, acima de tudo, proporcionar e manter segurança às mães e bebés.
Assim, em 2008 surge a primeira definição de cesariana natural, desenvolvida pelo obstetra Nicholas Fisk, em conjunto com a parteira Jenny Smith e a anestesista Felicity Plaat a trabalhar no Queen Charllote´s Hospital, em Londres. A prática desta técnica tem vindo a desenvolver-se por vários países do mundo melhorando a experiência das mulheres submetidas a cesariana sem complicações.
DEFINIÇÃO
Uma cesariana natural, continua a ser uma técnica cirúrgica, que permite o nascimento do bebé por via abdominal e que cumpre todos os requisitos e protocolos de segurança e prevenção de infeção hospitalar. Mantém os procedimentos técnicos e asséticos de uma cesariana clássica, mas sofreu algumas modificações no ambiente e medidas envolventes, que permitem oferecer às mulheres e casais uma experiência mais positiva, com maior participação e envolvimento no processo de nascimento dos seus filhos.
Desta forma, são incentivados procedimentos que promovem o vínculo precoce entre mães e bebés, respeitando as diretrizes da OMS quanto à primeira hora pós-parto. O contacto pele a pele precoce na “Golden Hour”, traz vantagens inquestionáveis para ambos, favorece a amamentação precoce e o seu sucesso ao longo do tempo.
É importante referir que a cesariana natural não tem como objetivo substituir o parto natural e muito menos promover o aumento da prática de cesarianas. Ela surge como uma alternativa capaz de proporcionar um ambiente mais tranquilizador, apesar de técnico e, momentos mais prazerosos, humanizados e benéficos para os pais e bebés.
A sua realização estará sempre dependente de uma avaliação médica, do tipo de gravidez e riscos associados, assim como, da recetividade e desejo da grávida.
PROCEDIMENTOS
A equipa multidisciplinar (obstetra, anestesista, enfermeiro e pediatra) irá trabalhar com um objetivo comum: proporcionar um ambiente promotor da participação e bem-estar dos pais no parto e pós-parto imediato.
· A anestesia loco regional permite que a mulher se mantenha consciente e focada no momento. Os anestesistas farão pequenos ajustes se necessário, e se possível evitarão administrar medicação que possa alterar o seu estado de consciência.
· Algumas equipas podem ainda estar disponíveis para colocar música ambiente escolhida pelos pais, promovendo um ambiente mais descontraído na sala operatória.
· A mulher permanecerá em decúbito dorsal e os seus braços devidamente apoiados. O acompanhante permanecerá junto à cabeça da mulher podendo prestar apoio e preparar-se para capturar fotografias do nascimento, se a equipa assim o permitir. O anestesista ou o enfermeiro de anestesia irão monitorizar os parâmetros vitais, tendo o cuidado de manter a liberdade de movimentos e, aplicando estrategicamente no tórax os elétrodos do eletrocardiograma, permitindo espaço para o contacto pele a pele após o nascimento.
· A técnica cirúrgica convencional é realizada. Após incisão uterina, o obstetra apoia e estabiliza a cabeça do bebé dentro do útero e irá pedir a colaboração da mulher para o seu nascimento. Esta é incentivada a realizar força ou pressão abdominal, colaborando na exteriorização da cabeça do seu bebé de forma prolongada e em movimentos suaves, promovendo a contração uterina e expulsão do liquido dos pulmões, enquanto o tronco do bebé ainda se encontra a sair do útero e mantendo a circulação placentária, permitindo uma adaptação gradual do bebé ao meio extrauterino.
· É colocado um pano cirúrgico abaixo do tórax, que irá proteger o campo operatório, garantindo a esterilidade do mesmo. Serão utilizados panos transparentes que permitem a visualização de todo o procedimento e que facilitam a comunicação da equipa com a mulher/casal. Poderá assistir-se ao corte do cordão umbilical após o seu clampe tardio, se o mesmo for possível e se for um desejo do casal. É ainda possível tocar no bebé através do pano mantendo-se a assépsia necessária do mesmo.
· O contacto pele a pele será permitido após breve observação do pediatra, garantindo a estabilização inicial do recém-nascido, que será protegido do frio, seco e aquecido, regressando para o peito da mãe, para a pele a pele ainda na sala operatória.
· No recobro a mãe permanecerá em pele a pele com o seu bebé enquanto é vigiada pela equipa, que garante que os seu parâmetros vitais e condição clínica estão livres de complicações. A tríade será transferida para o internamento onde permanecerá em alojamento conjunto.
Queremos proporcionar momentos felizes e inesquecíveis, marcando a vida das famílias de forma positiva e em segurança.