tempos médios de espera

Hospital Particular Alvor

00h20m

Urgent Care

Hospital Particular Gambelas

00h06m

Urgent Care

00h00m

Paediatrics

Hospital Particular da Madeira

00h00m

Urgent Care

00h00m

Paediatrics

Madeira Medical Center

Unscheduled Medical Care

Dr. Duarte Freitas 

Radiologista

Dr. Duarte Freitas

Esteatose / Esteato-Hepatite:
O bom, o mau e o vilão

HPA Magazine 15

A esteatose hepática/esteato-hepatite, comummente conhecida como fígado gordo é a hepatopatia crónica mais prevalente nas sociedades ocidentais. Estima-se que a prevalência na população geral seja de 30%. 
É a causa mais frequente de alterações dos parâmetros analíticos hepáticos e uma causa frequente de pedido de exames de imagem.
Embora a esteato-hepatite seja encontrada em doentes com consumo elevado de álcool, são cada vez mais frequentes os casos não alcoólicos. 
Existem dois fenótipos de esteatose hepática não alcoólica: esteatose não alcoólica (NAFLD: non-alcoholic fatty liver disease) e esteato-hepatite não alcoólica (NASH: non-alcoholic steatohepatitis).
O fígado gordo, refere-se à acumulação de triglicéridos nas células hepáticas: os hepatócitos. O diagnóstico histológico é realizado com biópsia hepática, quantificando em grau 0 (<5% de hepatócitos contendo vacúolos de gordura), grau1 (5-33%), grau2 (33-66%), grau 3 (>66%).
A diferença histológica entre NAFLD e NASH refere-se à presença de inflamação na NASH; sendo que é a inflamação, definida pela presença de células inflamatórias nas biópsias hepáticas, que potencia a lesão hepática.
Enquanto a esteatose simples (NAFLD) tem um percurso relativamente benigno, a esteato-hepatite (NASH) tem o potencial de evolução para cirrose hepática.
A cirrose hepática representa a presença de fibrose no fígado com desorganização da sua estrutura e mais importante, da função. Complicações da cirrose incluem encefalopatia, ascite, e potencialmente hepatocarcinoma.


CAUSAS
Quando se fala de fígado gordo, a primeira associação é com o consumo de bebidas alcoólicas. Esta é uma causa reconhecida de esteatose e particularmente de esteato-hepatite.
Contudo, não é a única; 80% das pessoas com obesidade têm NAFLD. Representa também a causa potencialmente mais recuperável da doença. A dieta com redução calórica combinada com exercício físico têm um profundo impacto na melhoria e progressão da doença, particularmente, porque à obesidade se associam frequentemente hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia.
O risco cardiovascular encontra-se aumentado e é a principal causa de morte nas pessoas com NAFLD.
Em 6-26% das pessoas com NAFLD há progressão para NASH, com aumento da morbilidade e mortalidade devido à cirrose e suas complicações.
Não podendo ser exaustivo em todas as causas de fígado gordo, incluímos nesta discussão, hepatite C, doenças metabólicas, doenças do glicogénio, tóxicos e efeitos secundários de medicamentos. 

DIAGNÓSTICO
Provavelmente, o primeiro indício que o utente sofre de fígado gordo, provem das análises clínicas, com elevação das enzimas hepáticas ALT e AST. Frequentemente, seguem-se exames de imagem para melhor esclarecimento. O diagnóstico por imagem pode ser realizado por vários métodos:
Ecografia
A sensibilidade da deteção de esteatose por ecografia varia entre os 80 e 89%.
O radiologista procura o aumento do brilho do fígado, sinal da presença de esteatose.
À medida que a esteatose se agrava, ocorre o fenómeno oposto, o brilho diminui, em casos extremos, o fígado estará tão obscuro, que não terá leitura.
Para além de procurar sinais de esteatose, são também procurados sinais de doença hepática mais avançada. Em casos de cirrose, está disponível a elastografia, que permite quantificar a presença de fibrose no fígado.

TAC – Tomografia Axial Computorizada
O TAC não é o exame de primeira linha para o diagnóstico de fígado gordo, não porque não seja um método capaz, mas porque sendo um exame mais complexo, envolve radiação, e como tal, não é um bom teste de rastreio. Contudo, será uma boa opção, se o médico suspeitar de doença mais grave ou de complicações.

RM – Ressonância Magnética
A ressonância magnética é o método de eleição no diagnóstico de doenças hepáticas. À semelhança do TAC, é um exame complexo, não ideal no contexto de rastreio, mas reservado para o diagnóstico específico. As capacidades da RM permitem obter excelente caracterização tecidular e contraste de tecido superiores aos dos outros métodos de imagem. Em relação ao TAC tem a vantagem de não ter radiação. Será o método preferencial para estudar o fígado em pessoas jovens, nas quais os órgãos são mais radiossensíveis.
Usando sequências apropriadas, é possível a quantificação da gordura intracelular dos hepatócitos (Fig. 7).

TRATAMENTO
O tratamento do fígado gordo é o tratamento da sua causa. Estadios iniciais são reversíveis com a suspensão do consumo de bebidas alcoólicas, com plano de dieta estabelecida na consulta de nutrição, com controlo eficaz da diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial.
A evolução para cirrose implicará o tratamento das suas complicações e em última instância o transplante hepático.

CONCLUSÃO
Começámos o título por o bom, o mau (esteatose) e o vilão (esteato-hepatite). Mas a personagem boa nunca apareceu.  Contudo, esteve sempre connosco. É altura de a revelar.
É a ciência que fornece dados e provas, são os profissionais de saúde que acompanham os pacientes, são os meios de diagnóstico que permitem trabalhar as doenças e alterar o seu curso natural e, é acima de tudo a força de vontade de cada um, em implementar mudanças para a sua saúde.

Figura 1 (esquerda): Esteatose hepática de grau ligeiro.
Figura 2 (direita): Esteatose hepática de grau acentuado. Note-se que à exceção da eia Porta, (centro da imagem) há poucos detalhes da estrutura do fígado.
 

Figura 3 (esquerda): Neste doente, com hepatomegalia e esteatose, suspeitou-se de uma massa hepática no lobo direito.  Contudo, após a administração de contraste, verificou-se ser um padrão focal de esteatose, e não um hepatocarcinoma.
Figura 4 (direita): Neste doente, o fígado apresenta hepatomegalia, com vários nódulos hepáticos que captam o produto de contraste na fase arterial, traduzindo o diagnóstico de carcinoma hepatocelar. Para além das lesões hepáticas, apresenta também ascite no abdómen superior.
 

Figura 5 (esquerda): Sequência T1 em oposição de fase. Neste doente suspeitou-se de vários nódulos hepáticos, mas nesta sequência, o contorno dos nódulos é acentuado, traduzindo um diagnóstico de esteatose nodular, variante rara de esteatose.
Figura 6 (direita): Sequência T1 em oposição de fase. Este doente com padrão de esteatose, apresenta sinais de cirrose hepática, com hepatomegalia e contornos nodulares.


Figura 7: Resultado gráfico de sequências específicas para deteção de esteatose. Permite a quantificação da percentagem de hepatócitos com vacúolos de gordura. Neste caso o resultado foi 12-18%.