Médico Dentista
HPA Magazine 14
O QUE É A PERIODONTOLOGIA?
A periodontologia é a área da medicina dentária que se dedica ao estudo das patologias que afetam os tecidos que dão suporte aos dentes e os mantêm posicionados nos maxilares. O osso, o ligamento periodontal e as gengivas são responsáveis por este suporte e constituem o que se designa por periodonto.
Para além das funções anteriormente referidas, o periodonto é responsável por absorver os impactos das forças exercidas sobre os dentes, contribuindo assim para uma maior eficiência e conforto aquando da mastigação.
O QUE É A PERIODONTITE?
A periodontite é vulgarmente conhecida como uma doença das gengivas. Estima-se que afete cerca de 65% da população adulta e sabe-se que apresenta uma evolução crónica.
A periodontite é uma doença que acomete os tecidos que suportam os dentes nos maxilares, nomeadamente as gengivas, o osso e o ligamento periodontal.
A doença periodontal é causada por bactérias e pela persistente inflamação local que estabelecem. O grupo de bactérias responsáveis pela periodontite fazem parte da constituição normal da flora bacteriana oral. No entanto, a acumulação regular e persistente de placa bacteriana e tártaro nas superfícies dentárias, pode desencadear um aumento drástico do número de bactérias periodontais. É por isso importante ressalvar que apesar de se tratar de uma doença bacteriana, a acumulação de placa bacteriana é apontada como a principal responsável pela instalação da doença.
A multiplicação bacteriana descontrolada em torno do periodonto, aliada a hábitos de higiene insatisfatórios e a uma falta de acompanhamento médico-dentário, estimula inicialmente uma resposta inflamatória ao nível da gengiva. Contudo, com a progressão da doença, instala-se uma inflamação crónica que progride ao longo dos tecidos periodontais levando a uma destruição da união entre a gengiva e o dente com a consequente formação de bolsas periodontais, locais de eleição para a colonização e multiplicação das bactérias periodontais.
Este é um processo que pode ser mais ou menos agressivo de acordo com o tipo de periodontite, bem como de acordo com o nível de progressão da doença quando é diagnosticada. O número e o tipo de bactérias presentes, a capacidade individual do sistema imunitário de cada paciente, assim como a presença de alguns fatores de risco, determinam a gravidade e taxa de progressão da doença. Como principais fatores de risco surgem a carga genética, os hábitos tabágicos, a diabetes descontrolada e o uso regular de certos fármacos anti-hipertensores.
QUAIS OS PRIMEIROS SINAIS A QUE DEVE ESTAR ATENTO?
Um dos primeiros sinais de alerta é o sangramento das gengivas. Inicialmente, o paciente verifica que o sangramento ocorre aquando a escovagem. A gengiva começa por ter uma alteração de cor e de forma, tornando-se mais avermelhada, edemaciada e por vezes, numa fase mais aguda, até dolorosa.
GENGIVITE VERSUS PERIODONTITE
As gengivas não estão totalmente aderidas aos dentes. Entre os dentes e as gengivas existe um pequeno espaço não percetível pelo paciente, que se designa por sulco gengival. Uma escovagem incorreta não será efetiva na remoção de todo o remanescente de placa bacteriana que se acumula no sulco gengival. A acumulação persistente de placa no sulco gengival leva à inflamação das gengivas. Nesta fase, instala-se a gengivite, isto é, verifica-se apenas uma inflamação das gengivas. Fatores como próteses ou restaurações mal adaptadas, gravidez, puberdade e o uso de determinados fármacos, podem agravar a inflamação gengival.
As gengivites são uma condição muito frequente que pode ser facilmente tratada com acompanhamento médico-dentário. Contudo, quando não é diagnosticada e tratada atempadamente poderá evoluir para uma periodontite. No entanto, sabe-se que as capacidades de defesa e resposta das gengivas de cada paciente e a sua herança genética exercem um importante papel na progressão da doença, pelo que é importante referir que nem todas as gengivites evoluem para periodontite.
Quando é diagnosticada periodontite, a doença já se instalou. Verifica-se, portanto, uma destruição gradual e irreversível do periodonto.
Nesta fase mais tardia, o paciente poderá notar que o sangramento gengival pode ocorrer durante a mastigação ou ser espontâneo; ter queixas de mau hálito; verificar uma alteração da posição dentária; observar a ocorrência de espaçamentos entre dentes; ter a sensação de dentes mais alongados devido à ao processo de recessão gengival (retração das gengivas) e em alguns casos mais raros experienciar dor.
Em fumadores, devido ao efeito da nicotina sobre os vasos sanguíneos da gengiva, os primeiros sinais de inflamação gengival podem ser menos evidentes e mascarar a doença.
É crucial ressalvar e reter a ideia de que uma gengiva saudável não sangra, nem mesmo durante a escovagem. O paciente deve consultar o seu médico-dentista caso a situação se verifique.
QUAL O TRATAMENTO DA PERIODONTITE?
O foco do tratamento da doença periodontal é a eliminação da placa bacteriana das bolsas periodontais de modo a parar a progressão da doença.
PERIODONTOGRAMA
Numa primeira fase é realizado um registo num periodontograma onde o médico-dentista fará um mapeamento de todas as bolsas periodontais e avaliará a destruição dos tecidos do periodonto. O periodontograma em conjunto com a histórica clínica do paciente, permite estabelecer um diagnóstico de que tipo de periodontite se trata, bem como prever a taxa de progressão em que a doença se encontra.
INSTRUÇÕES DE HIGIENE ORAL
A instrução e motivação do paciente sobre hábitos de higiene oral verifica-se crucial no sucesso do tratamento. O médico-dentista fornecerá as ferramentas e estabelecerá as condições para permitir que haja o controlo da acumulação de placa bacteriana por parte do paciente. No entanto, a colaboração e empenho deste são a chave para o sucesso do tratamento. Será importante referir também que mesmo em pacientes muito disciplinados com a higiene oral, poderão ocorrer reincidências da doença. Isto acontece devido à grande dificuldade em contrariar a componente genética e tendência do paciente para a doença periodontal.
Destartarização e Alisamento Radicula
Com recurso à destartarização ou limpeza profissional, é feita a remoção mecânica da placa bacteriana e tártaro aderidos às superfícies dentárias. Após a destartarização é realizado um alisamento das raízes de modo a torná-las superfícies mais lisas, removendo e atrasando a colonização bacteriana.
Cirurgia Corretiva
Em alguns casos, quando a periodontite já está muito avançada, existem bolsas periodontais muito profundas onde se acumulam depósitos de tártaro. Com a escovagem ou mesmo com ajuda médica com recurso apenas à destartarização ou com a raspagem das raízes, não é possível garantir a correta higienização destas bolsas.
Nestes casos, sob anestesia local, é feito um levantamento das gengivas e exposição das raízes, permitindo uma eficiente descontaminação.
A cirurgia periodontal corretiva para além de ser um método de higienização das bolsas mais profundas, permite também modelar e reposicionar as gengivas criando condições mais favoráveis ao paciente para fazer um eficiente controlo de placa. Em alguns casos, é mesmo possível fazer uso de técnicas de regeneração de osso e ligamento perdidos devido à doença.
TERAPIA DE SUPORTE/MANUTENÇÃO
A terapia de suporte/manutenção inicia-se quando se verifica a estabilização da doença periodontal. Nesta fase, todas as etapas do tratamento já terão sido executadas e a reavaliação da condição periodontal permite conduzir o paciente para a terapia de suporte. O paciente estará apto a ser conduzindo para esta fase quando se verificar capaz de fazer um controlo de placa efetivo e manter o seu periodonto reduzido saudável, isto é, sem focos de inflamação e infeção.
Caberá ao médico-dentista determinar com que frequência o paciente deverá fazer consultas de controlo, tendo por base a responsabilidade e disciplina do paciente, bem como a taxa de progressão e severidade da doença e o risco individual de cada individuo.