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Dr.ª Marina Augusto Estêvão

Nutricionista

Nutrição infantil
Comer bem desde pequenino em casa e na escola

HPA Magazine 14

 

São várias as dúvidas e preocupações que surgem aos pais quando falamos em alimentação infantil. Dar o exemplo, a persistência e o positivo envolvimento da criança com o alimento são três passos que abrem caminho para a aquisição de bons hábitos alimentares que se manterão para a vida e contribuirão para um correto desenvolvimento físico e cognitivo.

 



 

As crianças aprendem com o exemplo dos pais e desenvolvem a cultura gastronómica de acordo com o seu estilo de vida. Se optarmos por exemplo por beber sempre água às refeições e não tivermos o hábito de ter em casa refrigerantes nem sumos açucarados, facilmente as nossas crianças se habituarão a beber sempre água às refeições em detrimento de outras bebidas. 
Nem todos os alimentos agradam ao paladar, quando as crianças crescem tendem a ficar mais seletivas. É importante continuar a oferecer mesmo os alimentos de que não gostam tanto. Não nos devemos contentar pelo facto de comerem sopas passadas; é importante a introdução de uma maior variedade de vegetais e hortícolas, preparados e confecionados de diversas formas (por exemplo curgete e beringela cortadas às rodelas no forno, vegetais crus em palitos ou preparados de forma criativa, por exemplo em forma de caras felizes, cozidos a vapor ou grelhados). Uma alimentação variada e equilibrada é fundamental para garantir um bom estado nutricional com todos os macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono e gorduras) e micronutrientes (vitaminas e minerais) de que a criança necessita para um desenvolvimento saudável.
Envolver a criança com o alimento, proporcionando-lhe experiências positivas irá motivá-la a adotar escolhas alimentares mais saudáveis no futuro. Preparar o próprio pequeno-almoço ou lanche, deixar a criança fazer a sua sandes e escolher a peça de fruta que quer levar para a escola.
Há outras atividade que devem também ser proporcionadas, tendo em conta o mesmo propósito: incentivar a criança a participar em atividades agrícolas; fazer uma pequena horta ou plantar algo na varanda para mais tarde colher; ajudar na preparação das refeições em casa; deixar a criança descascar e ralar cenoura ou pepino (sempre com supervisão do adulto) ou deixar a criança usar a batedeira para fazer puré de batata-doce ou deixá-la adicionar um pouco de noz-moscada; permitir que escolha receitas que queira experimentar. Tudo isto irá contribuir para que a criança crie uma relação positiva com o alimento.
E na escola, será que podemos ficar descansados com as refeições servidas às nossas crianças?
Os refeitórios/cantinas escolares constituem um espaço privilegiado de educação para a saúde, com o objetivo de promoção de estilos de vida saudáveis e de equidade social. Fornecem refeições nutricionalmente equilibradas, saudáveis e seguras a todos os alunos, independentemente do estatuto socioeconómico das suas famílias, estando esta premissa salvaguardada no Decreto-Lei nº 11/2017 de 17 de abril. 
 

Para além disso, a legislação garante a distribuição gratuita de leite escolar para o pré-escolar e 1º ciclo e de frutas para o 1º ciclo. 
Existe também a obrigatoriedade da opção vegetariana nas escolas, assim como recomendações dadas pela Direção Geral de Saúde relativamente à sua composição nutricional. 
Também já foram emitidos pareceres pela mesma organização acerca da recomendação e proibição de venda de certos produtos alimentares nos bares das escolas, como salgadinhos bolos com creme, refrigerantes ou chocolates.
Em princípio, poderíamos ficar descansados relativamente às refeições das crianças nas escolas. No entanto, nem sempre as refeições são realizadas nos refeitórios/cantinas escolares como desejado, ou por questões de gostos/preferências alimentares ou por influências sociais dos colegas/amigos, especialmente nas fases da pré-adolescência e adolescência. É nesta fase que os hábitos adquiridos na infância irão ter o seu papel fulcral.
Hoje em dia ainda podemos verificar que um grande número de crianças e adolescentes apresenta hábitos alimentares desadequados, por exemplo almoços realizados em snack-bares, restaurantes de fast food, ou mesmo refeições/lanches que traz de casa. 
Este tipo de refeições é geralmente mais rico em gorduras saturadas, de baixo teor em fibras, alto teor em açúcares e um aporte excessivo de sal, para além de diminuírem a sensação de saciedade e a capacidade de concentração, aumentam o risco para desenvolvimento de certas patologias como a obesidade, dislipidemias, hipertensão arterial, diabetes tipo II ou diminuição da autoestima e depressão.
Incentive as crianças e jovens a optar por lanches saudáveis: fruta fresca, frutos secos sem adição de sal, sandes feitas em pão de mistura ou integral com adição de algum vegetal (alface, cenoura ralada, tomate), palitos de vegetais que poderá transportar num recipiente (pepino, cenoura, tomate cherry, rabanetes), ovo cozido com tostinhas integrais, triângulo de queijo com bolachas de milho ou de arroz, pipocas feitas apenas em óleo de coco e canela.
Uma criança que teve uma relação positiva com alimentos saudáveis, por exemplo que não foi obrigada a comer sopa, mas sim foi ensinada de forma lúdica e natural a gostar de sopa, irá ter uma maior probabilidade de manter esses hábitos ao longo de toda a sua vida e tornar-se um adulto saudável.