Enf.º Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia
HPA Magazine 11
Maternidade
O nascimento de uma nova vida é um acontecimento muito importante na vida de qualquer casal. Estes procuram preparar-se para a gravidez, para o parto e tentam naturalmente preparar-se para acolherem o novo elemento da família.
No entanto, algumas vezes os planos são alterados, surgindo uma ameaça de parto antes da gravidez atingir o termo, que são as 37 semanas.
Perante a ameaça de parto pré-termo (APPT) a grávida é internada pelo obstetra para vigilância e terapêutica.
Nesta situação, as medidas propostas pelos obstetras visam impedir o parto pré-termo (PPT), ou pelo menos, atrasar o parto quando possível. Outro objetivo é proporcionar as melhores condições de maturação pulmonar ao feto. Esta maturidade é assegurada por meio de corticoides (quando a sua prescrição se enquadra com a idade gestacional existente) e visa otimizar o funcionamento respiratório no nascimento.
A administração de medicação tocolítica, que tem a função de tentar interromper a contratilidade do útero, pode ser um fator importante, sendo a sua pertinência para cada situação avaliada pelo obstetra.
O repouso também costuma ser uma das primeiras indicações clínicas. É geralmente prescrito, pois o trabalho ou atividade física exigente são fatores de risco associados à ameaça de APPT. O repouso tem assim o objetivo de reduzir o stress, a carga física e a atividade uterina contrátil, no sentido de contrariar o parto. Esta medida procura dar mais tempo ao feto para se desenvolver no mundo intrauterino.
O tipo de repouso prescrito pode ser dividido em repouso absoluto ou repouso relativo.
No repouso absoluto no leito a atividade física é reduzida ao mínimo; a grávida fica continuamente deitada no leito, sem deambular. Toda a atividade de alimentação, higiene e eliminação devem ser aí ser realizadas.
No repouso relativo, a grávida pode deambular com moderação ate ao wc para prestar os cuidados de higiene e eliminação. A deambulação é no entanto restrita ao mínimo essencial, não podendo por isso deambular livremente. Estas indicações de repouso podem chegar a vários dias ou semanas, sendo diferentes conforme cada situação específica.
Durante muito tempo pensou-se que o repouso absoluto no leito seria essencial como medida standard.
No entanto, sabe-se que a inatividade física contínua também tem riscos, mesmo em pessoas jovens, tais como:
Apesar destes riscos, a opção de repouso absoluto não pode ser descartada, sendo uma importante opção do obstetra em situações específicas.
A opção de repouso relativo diminui alguns destes riscos, mas ainda assim, impõe-se à gravida uma diminuição drástica da mobilidade e deambulação, além de persistirem os fatores de risco psicológico de cariz familiar, económico e social, pelo internamento que por vezes é prolongado.
Tal como todas as pessoas são diferentes, os ritmos de vida, níveis de stress e atividade física das grávidas também variam. Reduzir a atividade e o cansaço, proporcionar um ambiente calmo, podem ser fatores importantes na abordagem à APPT. Mas muitas vezes não são a causa única, podendo outras causas serem responsáveis.
Em virtude dos riscos da imobilidade, a equipa cuidadora deve montar uma estratégia de acompanhamento, explicando de forma esclarecedora a situação de ameaça de parto, as vantagens do repouso implementado, bem como os seus riscos. A equipa deve igualmente estar alerta para o aparecimento de alterações tromboembólicas, prestar ou fornecer apoio psicológico e emocional, envolvendo a família e, proporcionando ainda se necessário fisioterapia cardiorrespiratória e/ou neuromúsculoesquelética.