Pediatra
HPA Magazine 11
A perda involuntária de urina durante o sono (fazer chichi na cama) de uma criança com 5 ou mais anos de idade é denominada enurese noturna e, é relevante se ocorre duas ou mais vezes por semana e/ou, tem repercussão para a criança e família. A perda de urina é involuntária e não está relacionada com preguiça ou desleixo pelo que a criança nunca deverá ser culpabilizada ou castigada.
A criança desenvolve a capacidade de reter a urina durante algum tempo geralmente até aos 3-4 anos de idade, primeiro durante o dia e depois durante a noite.
A perda involuntária de urina durante o sono (fazer chichi na cama) de uma criança com 5 ou mais anos de idade é denominada enurese noturna e, é relevante se ocorre duas ou mais vezes por semana e/ou, tem repercussão para a criança e família.
Trata-se de uma situação frequente, sendo que é mais prevalente nos rapazes e diminui com a idade. Aos 5 anos, 20% das crianças são enuréticas e a frequência diminui até aos 5% pelos 10 anos, mas pode prolongar-se até à adolescência ou mesmo até à idade adulta.
Quando não se verificam outras perturbações urinárias durante o dia, consideramos tratar-se de enurese noturna monossintomática e quando existem outras, a situação passa a designar-se de enurese noturna polissintomática. A enurese também se classifica de primária se a criança nunca adquiriu o controlo de urina durante a noite ou secundária quando se verificou um período de, pelo menos, seis meses de continência.
A perda de urina é involuntária e não está relacionada com preguiça ou desleixo pelo que a criança nunca deverá ser culpabilizada ou castigada.
A enurese noturna primária está relacionada com um atraso na maturação dos mecanismos ligados à capacidade de concentrar e reter a urina durante a noite.
A criança enurética para além de um sono profundo tem, habitualmente, menor produção noturna de hormona antidiurética que tem a função de concentrar a urina, causando a eliminação de grande quantidade de urina durante a noite. Pode, também, ter a bexiga mais pequena que o esperado para a sua idade.
Esta situação tem um forte componente genético. O facto de um dos familiares próximos ter tido enurese, aumenta a probabilidade da criança também vir a ter. O filho de um casal em que um dos pais foi enurético tem cerca de 40% de probabilidade de também ser e se ambos os pais foram enuréticos a probabilidade aumenta para 70%.
Os fatores psicológicos na enurese noturna primária raramente são causa, mas podem ser uma consequência desta situação. As crianças com enurese desenvolvem, com frequência, sentimentos de vergonha e ansiedade, baixa autoestima, dificuldades de socialização, diminuição da qualidade de vida e de rendimento escolar e sofrem maior risco de abuso físico e emocional. É também desgastante para os pais e é causa de aumento do stress familiar.
A enurese deve por tudo isso, merecer atenção, avaliação cuidadosa e tratamento, dado que pode provocar efeitos negativos significativos na vida da criança afetada e da sua família.
Perante uma situação de enurese noturna, os pais devem recorrer ao médico assistente da criança que avaliará e acompanhará a situação, decidindo se necessário, o envio a uma consulta especializada.
A enurese secundária, que ocorre quando a criança voltou a ter perdas urinárias noturnas depois de estar mais de seis meses sem urinar na cama, é uma entidade diferente e, deve ser avaliada em consulta médica com brevidade, pois é importante excluir outras causas nomeadamente infeção urinária, doença renal crónica, diabetes, problemas psicológicos, entre outras.
Da avaliação clínica consta a análise detalhada de diversos aspetos da vida diária da criança, nomeadamente da ingestão de líquidos, dos hábitos urinários diurnos e do funcionamento intestinal, das caraterísticas e qualidade do sono, da existência de roncopatia e da frequência e caraterísticas das perdas de urina durante a noite.
Os hábitos de ingestão de líquidos têm particular importância, verificando-se que muitas destas crianças bebem mais ao final da tarde e início da noite, o que favorece maior produção de urina durante a noite. As bebidas açucaradas e com cafeína agravam, também, a enurese.
Existem situações que podem facilitar ou agravar a ocorrência de enurese. A obstipação, por causar retenção das fezes no intestino vão pressionar a bexiga e, diminuem a capacidade para conter a urina. A má qualidade do sono, resultante de situações como ressonar por hipertrofia dos adenoides e amígdalas, pode também ser responsável pelo agravamento da enurese. O tratamento da obstipação ou dos problemas de sono pode levar à resolução ou melhoria da enurese. Vários outros problemas médicos, de que são exemplos os distúrbios do neurodesenvolvimento como a perturbação de hiperatividade e o défice de atenção, podem associar-se a aumento da frequência da enurese.
Na maioria das situações apenas é necessária a realização de uma análise de urina, podendo ser também pedida uma ecografia renal e vesical. Existem situações mais complexas nas quais poderá ser necessário recorrer a outros exames de diagnóstico.
O tratamento da enurese tem como base essencial um conjunto de medidas que ajudam a diminuir a produção da urina durante a noite (reduzir significativamente a ingestão de líquidos a partir do final da tarde, incentivando o consumo de água durante a manhã e início da tarde, para evitar a sede intensa à noite), assim como a adoção de hábitos miccionais saudáveis, ou seja urinar regularmente durante o dia (intervalos de cerca de 3 horas), promover o esvaziamento completo da bexiga e urinar sempre antes de deitar. Primordial também é o reforço positivo, recompensando os dias secos, assim como evitar o uso de fralda se a criança demonstrar vontade de não a usar.
Quando as medidas comportamentais são insuficientes e há consequências significativas para a criança, pode ser necessário recorrer a medicamentos. O medicamento mais utilizado é um substituto da hormona antidiurética (desmopressina) que, tomado algum tempo antes de deitar, diminui a quantidade de urina produzida durante a noite.
Pode também utilizar-se ou associar se o alarme. Trata-se de um dispositivo específico com um sensor de humidade que é colocado na roupa interior da criança e, emite um som quando deteta urina. Este ruído acorda a criança para que ela vá ao quarto de banho completar a micção, promovendo assim o desenvolvimento dos mecanismos que a levam a acordar com o estímulo da bexiga cheia.
Para alguns dos procedimentos dolorosos, quer sejam de diagnóstico ou tratamentos, que se efetuam nos hospitais é possível garantir o controlo da dor, do medo e da ansiedade associada, recorrendo a variadas técnicas, nomeadamente a sedação consciente.
Esta técnica tem como princípio a inalação de gás medicinal, que não tem cheiro nem cor e é normalmente utilizado para reduzir a dor, ajudando a promover uma maior colaboração da criança em procedimentos dolorosos.
A utilização desta técnica em Pediatria provoca um estado de sedação consciente. Isso significa que a criança terá capacidade de resposta durante todo o procedimento, nomeadamente em pequenas intervenções, tais como realização de pensos, redução de fraturas simples, entre outras.