Dr. Pedro Morais Silva, imunoalergologista
Em relação ao risco de desenvolvimento de uma reação alérgica, quais são atualmente as contraindicações para a administração das vacinas contra SARS-CoV-2atualmente disponíveis?
De acordo com as atuais Normas de Orientação Clínica da DGS, são consideradas contraindicações: a) história de alergia já conhecida a um dos excipientes da vacina a administrar ou b) história de anafilaxia a uma toma anterior da vacina contra o vírus SARS-CoV-2.
Estes doentes devem ser referenciados, com prioridade urgente, a um serviço de Imunoalergologia, de forma a serem avaliados para estratificação do risco e estudadas eventuais alternativas.
Além disso, devem ser também referenciados à consulta de Imunoalergologia, os doentes que apresentam história prévia de: a) reações anafiláticas a outras vacinas (não-SARS-CoV-2); b) doentes com história de anafilaxia idiopática; c) doentes com alergia confirmada a excipientes (mesmo que não presentes nas vacinas SARS-CoV-2) e d) os doentes com mastocitose sistémica ou doenças proliferativas dos mastócitos.
As reações alérgicas às vacinas contra COVID-19 são frequentes?
Não. Estima-se que estas ocorram em menos de 1 em cada 10 000 administrações. No entanto, à semelhança de qualquer medicamento, as vacinas poderão desencadear efeitos indesejáveis, que, por vezes, são incorretamente interpretados como alergia. Os efeitos adversos mais frequentes incluem reações no local da injeção, dor de cabeça, dores musculares ou das articulações, febre, sensação de cansaço, enjoos e mal-estar geral. Nenhum destes sintomas é devido a uma reação alérgica e normalmente resolvem-se espontaneamente no prazo de 3 dias.
Um doente alérgico à penicilina ou a anti-inflamatórios pode ser vacinado?
Sim. A alergia à penicilina ou a outros betalactâmicos e a anti-inflamatórios não é uma contraindicação para a administração das vacinas atualmente disponíveis.
Os doentes com alergia alimentar grave podem ser vacinados?
Sim. Após revisão dos casos de alergia relacionados com a administração de vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 não foi identificada qualquer relação com alergia alimentar.
Algumas vacinas são contraindicadas em doentes com alergia ao ovo. As vacinas contêm proteínas de ovo?
Não. As vacinas Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, Johnson & Johnson e Moderna não contêm proteínas de ovo.
Os doentes alérgicos a ácaros ou a pólenes podem receber a vacina contra o vírus SARS-CoV-2? E os doentes que estão a realizar imunoterapia com alergénios (“vacinas para a alergia”), podem ser vacinados?
Sim. A alergia a alergénios respiratórios não é uma contraindicação para nenhuma das vacinas. Igualmente, os doentes sob imunoterapia com aeroalergénios podem ser vacinados, sendo aconselhada pelo menos uma semana de diferença entre a vacinação contra a SARS-CoV-2 e a administração de imunoterapia, assim como qualquer outra vacina.
Os doentes com asma apresentam risco mais elevado de sofrer uma reação com uma vacina contra SARS-CoV-2?
Não. No entanto, tal como com outras vacinas, é recomendado que a asma se encontre controlada no momento da vacinação.
Os doentes com compromisso da imunidade podem receber a vacina?
As vacinas mRNA e com vetor adenovírus não são vacinas vivas e não podem provocar infeção. Por esse motivo são globalmente consideradas seguras para administração em doentes imunocomprometidos. No entanto, de acordo com a patologia de base, alguns doentes poderão apresentar uma resposta de memória imunológica diminuída a vacinas.
8 de Junho de 2021